As quebras identificadas, aquelas causadas por vencimento, avaria, maturação e outros motivos que podem ser percebidos pela loja, representam entre 60% e 70% das perdas totais do varejo alimentar. Estas perdas estão concentradas principalmente nos setores perecíveis, como FLV, Açougue, Padaria, Peixaria e frios. Muitas dessas perdas têm causas variadas e dispersas ao longo da cadeia de abastecimento, tais como planejamento de abastecimento inadequado, pedidos errados, falhas nos processos de movimentação, manuseio incorreto na loja, dentre outras causas.
Essas hipóteses podem ser testadas com base apenas na análise dos dados, permitindo um diagnóstico rápido para direcionamento das ações para redução das perdas.
Abaixo estão 4 testes para identificação das causas das perdas identificadas:
Correlação entre venda e quebra das lojas
A relação entre as vendas e as quebras identificadas das lojas pode esclarecer se o problema está relacionado a um abastecimento falho. Comportamento de lojas com baixas vendas e que quebram muito e altas vendas que quebram pouco pode indicar que as perdas são causadas por excesso de produtos na loja. Afinal, infere-se que as perdas ocorrem porque não há giro e os produtos estragam por falta de venda. Existe uma fórmula no Excel simples para analisar isto, chamada CORREL. Ela busca a correlação entre 2 variáveis distintas. Mas atenção. Ao avaliar a correlação, é fundamental considerar a variável venda em valor e quebra em índice. Afinal, a quebra em valor naturalmente é maior em lojas que vendem mais. No caso abaixo, foi identificado uma correlação entre venda e índice de quebra de -0,77. Correlações negativas indicam que uma variável se comporta ao contrário da outra. Ou seja, quando uma cai, a outra sobe e vice-versa
Lojas | Venda do período | Quebra do período | % quebra |
loja 1 | R$ 250.000,00 | R$ 20.000,00 | 8,0% |
loja 2 | R$ 300.000,00 | R$ 27.000,00 | 9,0% |
loja 3 | R$ 350.000,00 | R$ 24.500,00 | 7,0% |
loja 4 | R$ 400.000,00 | R$ 30.000,00 | 7,5% |
loja 5 | R$ 400.000,00 | R$ 24.000,00 | 6,0% |
correlação | -0,685994341 |
Quebras identificadas: benchmark interno de perdas
Varejistas que possuem uma rede grande de lojas podem avaliar o benchmark interno de perdas, ou seja, lojas na própria rede que performam com resultados bons considerando o mesmo método de apuração e as mesmas características internas. Isto permite avaliar se as perdas são causadas por problemas externos ou internos à loja. No exemplo acima, a loja 5 fatura o mesmo que a loja 4, mas tem um índice de perdas muito menor. Logo, é provável que o ambiente interno das lojas seja determinante para o índice de perdas
Variação das perdas ao longo de um período
A variação das perdas ao longo de um período nas lojas é um indicador que reforça ou enfraquece o benchmark interno de perdas. Lojas com baixas perdas e baixa variação do índice de perdas ao longo dos meses indicam que seus resultados estão controlados e não trarão surpresas. Logo, podem efetivamente serem usadas como referência. Para ilustrar o exemplo, vamos tomar a loja 3 e 5. No caso da loja 5, as variações são muito altas entre os meses. Logo, a média final esconde registros de quebra com baixa qualidade e eventuais problemas operacionais. A loja 3, por sua vez, possui um índice mais estável ao longo do período. Logo, é provável que o benchmark interno seja 7% e não 6%. Para calcular a variação da perda dentro de um período, pode-se usar a fórmula para cálculo do desvio padrão ou DESVPAD. No caso abaixo, a loja 3 teve desvio padrão de 1% e a loja 5, 4,5%.
Meses | Loja 3 | loja 5 |
jan | 9,2% | 10% |
fev | 8,2% | 2% |
mar | 7,6% | 15% |
abr | 7,0% | 8% |
mai | 6,5% | 3% |
jun | 6,0% | 5% |
jul | 6,0% | 2% |
ago | 6,2% | 12% |
set | 6,0% | 3% |
out | 6,3% | 0% |
nov | 7,0% | 6% |
dez | 8,0% | 6% |
Total | 7,0% | 6,0% |
desvio padrão | 1,05% | 4,51% |
Quebras identificadas: método ou origem do abastecimento
avaliar a relação das quebras identificadas das lojas em relação à origem ou forma de abastecimento delas pode identificar se as causas estão relacionadas a problemas logísticos ou de fornecedor. Em grandes redes varejistas, pode haver lojas distantes dos CDs, cujas entregas são diretas do fornecedor ou CDs que entregam para um grupo de lojas específicas. Se houver uma variação significativa das quebras entre os grupos de lojas abastecidos por diferentes métodos ou CDs, este pode ser um indicativo de que o problema está na logística de entrega dos produtos. No exemplo abaixo, as lojas abastecidas por entrega direta parecem ter índices de perda maiores que as lojas abastecidas por CD. Juntando esta análise com a primeira, pode-se inferir que fornecedores que entregam diretamente nas lojas podem estar empurrando mais mercadorias que o necessário para o volume de vendas delas.
Lojas | Abastecimento | Venda do período | Quebra do período | % quebra |
loja 1 | Entrega Direta | R$ 250.000,00 | R$ 20.000,00 | 8,0% |
loja 2 | Entrega Direta | R$ 300.000,00 | R$ 27.000,00 | 9,0% |
loja 3 | CD | R$ 350.000,00 | R$ 24.500,00 | 7,0% |
loja 4 | CD | R$ 400.000,00 | R$ 30.000,00 | 7,5% |
loja 5 | CD | R$ 400.000,00 | R$ 24.000,00 | 6,0% |
Com estas avaliações iniciais, a área de prevenção de perdas pode ter um direcionamento mais assertivo para diagnosticar as reais causas das perdas, de forma mais rápida e precisa. Isto permite atacar os principais problemas primeiro, com um aumento da efetividade na redução das quebras identificadas.
No exemplo acima, as análises permitem direcionar o diagnóstico qualitativo na loja 3 e na área que gerencia o abastecimento das lojas, pois provavelmente trarão ricos insumos para atacar as perdas.